quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O Simbolismo no Brasil


Na Europa o Simbolismo se sobrepôs ao Parnasianismo. No Brasil foi o contrário, o movimento simbolista foi quase inteiramente afastado pelo movimento parasiano, que teve muito prestígio entres as pessoas cultas da sociedade, até o começo do século XX. O Simbolismo deixou muitas contribuições, preparando terreno para as inúmeras mudanças que iria acontecer no século XX, no domínio da poesia.
O marco introdutório do movimento simbolista brasileiro foi a publicação, em 1893, das obras Missal (prosa) e Broquéis (poesia), de nosso maior autor simbolista Cruz e Sousa.
Além de Cruz e Sousa, destacam-se entre outros, Alphonsus de Guimaraens e Pedro Kilkerry.




Cruz e Sousa

João da Cruz e Sousa, considerado o mestre do simbolismo brasileiro, nasceu em Desterro, hoje cidade de Florianópolis - SC, no dia 24 de novembro de 1861. Desde pequenino foi protegido pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa, que o acolheram como o filho que não conseguiram ter. O referido marechal havia alforriado os pais do escritor, negros escravos. Educado na melhor escola secundária da região, teve que abandonar os estudos e ir trabalhar, face ao falecimento de seus protetores. Vítima de perseguições raciais, foi duramente discriminado, inclusive quando foi proibido de assumir o cargo de promotor público em Laguna - SC. Em 1890 transferiu-se para o Rio de Janeiro, ocasião em que entrou em contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Vivia de suas colaborações em jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de "Missal" e "Broquéis" (1893), só conseguiu se empregar na Estrada de Ferro Central do Brasil, no cargo de praticante de arquivista. Casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, em 09 de novembro de 1893. O poeta contraiu tuberculose e mudou-se para a cidade de Sítio - MG, a procura de bom clima para se tratar. Faleceu em 19 de março de 1898, aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão. Sua obra só foi reconhecida anos depois de sua partida. Gavita, que ficou viúva, grávida, e com três filhos para criar. Após o a morte do escritor perdeu dois filhos, vitimados também pela tuberculose. Com problemas mentais, passou vários períodos em hospitais psiquiátricos, vindo a falecer. O terceiro filho, com a mesma doença, faleceu logo em seguida. O único filho que sobreviveu, que tinha o nome do pai, também faleceu vitima dessa doença aos dezessete anos de idade.
As caractéristicas mais importantes da poesia de Cruz e Sousa são:
No plano temático: a morte, a transcendêcia espiritual, a integração cósmica, o mistério, o sagrado, o conflito entre matéria e espírito, a angústia e a sublimação sexual, a escravidão e uma verdadeira obsessão por brilhos e pela cor branca;
No plano formal: as sinestesias, as imagens surpreendentes, a sonoridade das palavras, a predominância de substantivos e o emprego de maiúsculas, utilizadas com a finalidade de dar um valor absoluto a certos termos.



ANTÍFONA

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras

Formas do Amor, constelarmante puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...

Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.

Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...

Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...




Alphonsus de Guimaraens


Representante do simbolismo no Brasil, Afonso Henrique da Costa Guimarães nasceu em Ouro Preto, MG em 1870 e morreu em Mariana, MG, em 1921. Numa época determinada filosoficamente pelo Positivismo, cuja expressão literária se manifestou no Parnasianismo e em movimentos afins, emerge a reviravolta simbolista, com uma força de transformação que, privilegiando as inquietações recalcadas pela corrente filosófica mencionada, mudará os rumos de toda poesia moderna: daí, a eclosão do inconsciente, do mistério, da transcendência e de uma escrita calcada mais na sugestão do que na afirmativa. Como um dos dois principais destaques do movimento (ao lado apenas de Cruz e Sousa), surge um dos poetas de maior harmonia e coesão qualitativa, conhecedor como poucos da língua portuguesa. Ele cria a peculiaridade de um estilo até então inexistente no país: um simbolismo de forte inclinação católica. Com versos de acentuada musicalidade, Alphonsus de Guimaraens se torna, assim, um dos mais importantes poetas místicos da língua portuguesa. Espiritualmente diverso de Cruz e Sousa, o poeta mineiro da cidade de Mariana elabora uma poesia serena, equilibrada e de uma religiosa aceitação dos reveses da vida.



ISMÁLIA

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...



A CABEÇA DE CORVO

Na mesa, quando em meio à noite lenta
Escrevo antes que o sono me adormeça,
Tenho o negro tinteiro que a cabeça
De um corvo representa.
A contemplá-lo mudamente fico
E numa dor atroz mais me concentro:
E entreabrindo-lhe o grande e fino bico,
Meto-lhe a pena pela goela a dentro.
E solitariamente, pouco a pouco,
Do bojo tiro a pena, rasa em tinta...
E a minha mão, que treme toda, pinta
Versos próprios de um louco.
E o aberto olhar vidrado da funesta
Ave que representa o meu tinteiro,
Vai-me seguindo a mão, que corre lesta.
Toda a tremer pelo papel inteiro.
Dizem-me todos que atirar eu devo
Trevas em fora este agoirento corvo,
Pois dele sangra o desespero torvo
Destes versos que escrevo.

2 comentários:

  1. Muito interessante!
    Mas essa escrita não é de vocês. Eu quero ver textos originais, mesmo sendo textos técnicos.
    As "amarras" são sempre a gente que faz. São elas que conferem originalidade às produções. Tentem novamente. Identifiquem as páginas resumidas e assinem o que fizerem. Quero ler o que sai do entendimento de vocês.
    Vamos denovo???

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  2. Ah!!
    Queria que soubessem que o grupo não está em nada diferente dos outros.
    Eu diria que estão todos trabalhando em pé de igualdade e isso é realmente muito bom!

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