quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O Parnasianismo no Brasil

A arte e a literatura são construídas em ciclos e as vezes o que se da por novo e simplesmente algo velho com uma linguagem diferente.
É o caso do Parnasianismo movimento de inspiração clássica que teve muita percussão no Brasil a partir da década de 1880. Depois da revolução romântica, formou-se no Brasil um grupo de poetas que desejavam retornar com a poesia clássica, desprezada pelos românticos. Uma poesia objetiva, de elevado nível vocabular, racionalista, bem-acabada do ponto de vista formal e voltada para temas universais.
De origem Grega a palavra Parnasianismo, que associasse segundo a lenda um monte consagrado a Apolo e suas musas. O próprio nome já comprovava o interesse pela tradição clássica. Acreditavam que estavam combatendo o exageros de emoção e fantasias do romantismo e garantindo o equilíbrio que desejavam.
Contudo, na poesia parnasiana não havia somente personagens da mitologia e de equilíbrio formal. Pode-se afirmar que todo o conteúdo clássico era apenas um verniz para garantir que as camadas letradas do publico consumidor gostasse do produto.
A batalha do parnaso
No final da década de 1870 travou-se uma guerra no jornal Diário do Rio de Janeiro uma briga, de um lado, os adeptos ao Romantismo e, de outro, os adeptos do Realismo e do Parnasianismo. No final dessa polêmica, que ficou conhecida como Batalha do Parnaso, foi a ampla divulgação das ideias do Realismo e do Parnasianismo nos meios intelectuais e artísticos.

Olavo Bilac: o ouvires da linguagem

Olavo Bilac (1865-1918) nasceu no Rio de Janeiro, estudou Medicina e Direito, mas não concluiu nenhum desses cursos. Exerceu as atividades de jornalista e inspetor escolar. Patriota, escreveu a letra do Hino à Bandeira e dedicou se a temas de caráter histórico-nacionalista. Sua primeira obra publicada foi Poesias (1888). Nela o poeta demonstrava estar totalmente identificado com as propostas do Parnasianismo. Mas, vez ou outra Bilac depreende-se de seus textos certa valorização dos sentimentos que lembra o Romantismo.
Embora Bilac não tenha se prendido a uma visão profunda sobre o homem e sua condição, Bilac foi o mais jovem e bem-acabado poeta parnasiano brasileiro. Seus poemas, principalmente os sonetos, apresentavam uma perfeição elaborada formal.
Observe, nesse soneto, a capacidade técnica do poeta, ao descrever um entardecer na cidade de Vila Rica, hoje Ouro Preto.

Vila Rica
O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre;
Sangram, em laivos de ouro, as minas, que ambição
Na torturada entranha abriu da terra nobre:
E cada cicatriz brilha como um brasão.

O ângelus plange ao longe em doloroso dobre,
O último ouro do sol morre na cerração.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,
O crepúsculo cai como uma extrema-unção.

Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu...
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,

Como uma procissão espectral que se move...
Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu...
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.


Além de várias figuras de linguagem, o poema é rico em sugestões sonoras, como o badalar do sino. Também a várias sugestões cromáticas relacionadas ao ouro (luz do sol e do ouro das minas) e ao negro (da noite, do passado e do próprio nome da cidade). Há também oposições presentes no texto, que reformam o contraste entre o passado e o presente. No “soluçar” do verso de Dirceu, a repetição do fonema /s/ na última estrofe ao mesmo tempo em que lembra um choro, sugere também os sofrimentos amorosos de Marília e Dirceu e dos confidentes mineiros. Trata-se de um poema que consegue unir técnicas de construção a um rico conteúdo histórico, qualidade que nem sempre foram alcançadas pelos parnasianos.
Entre as obras que Bilac escreveu, destacam-se: Via láctea, em que a objetividade parnasiana evolui para uma postura mais intimista e subjetivista; Sarças de Fogo, em que predominam a objetividade e o sensualismo; e O caçador de Esmeraldas, obra de preocupação histórica e nacionalista. O soneto que segue é um dos mais conhecidos poemas da obra Via Láctea, de
Olavo Bilac.


Soneto XIII De Via Láctea

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E vos direi, no entanto
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
e abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um palio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender as estrelas."

Raimundo Correia: a pesquisa da linguagem

Raimundo Correia (1860-1911) é um dos poetas que, juntamente com Olavo Bilac e Alberto de oliveira, formam a chamada “tríade parnasiana”. Maranhense estudou Direito em São Paulo e foi magistrado em vários Estados brasileiros.
Sua poesia representa um momento de descontração e de investigação. Nela se verificam pelo menos três fases:
. A fase romântica: é representada por Primeiros sonhos;
. A fase parnasiana: representada pelas obras Sinfonias e Versos e versões, é marcada pelo pessimismo de Schopenhauer e por reflexões de ordem moral e social;
. A fase pré-simbolista: Nela, o pessimismo busca refúgio na metafísica e na religião, diante a condição humana, enquanto a linguagem apresenta uma pesquisa em musicalidade e sinestesia.
Apesar de o Parnasianismo ter ganhado pouco destaque na Europa, aqui no Brasil foi diferente. Uma nova era começou na literatura brasileira, em vez de exageros emocionais e fantasiosos o Parnasianismo trazia um vocabular mais elevado, racionalista e bem-acabado. Apesar da disputa que aconteceu entre o Parnasianismo e o Romantismo alguns poetas parnasianos ainda exaltavam a valorização dos sentimentos, que lembra o Romantismo, um deles foi Olavo Bilac, um dos principais poetas do Parnasianismo.

Resumo referente às páginas 304 à 309 do livro-didático.

Nenhum comentário:

Postar um comentário